Empresa Familiar, Família Empresária, Transição e Governança

Quando se busca o entendimento sobre um fato, um fenômeno ou um acontecimento, a ciência os define ou os conceitua. Definir importa na visão definitiva e conclusiva, enquanto conceituar implica a percepção ou a ideia sobre algo.

Assim é com as empresas familiares, cuja dinâmica e fundamentos estão em constante evolução. Portanto, não se define uma empresa familiar, mas se conceitua.
Para muitos, são aquelas cujos familiares participam da gestão, independentemente do seu porte, enquanto para outros são aquelas cujo controle societário a família detém, não importa qual seja o modelo de gestão.

Para outro grupo, a partir do momento em que se entende por empresa uma organização que combina os fatores de produção (capital, recursos humanos, trabalho e tecnologia), a modalidade desta instituição torna-se familiar na medida em que uma ou mais famílias participam em um desses fatores. Na perspectiva de Werner Bornholdt, “Empresa Familiar é l – Aquela que nasceu de uma só pessoa, um self made man (empreendedor). Ele a fundou, a desenvolveu, e, com o tempo, a compôs com membros da família a fim de que, na sua ausência, a família assumisse o comando. ll – a que tem o controle acionário nas mãos de uma família, a qual, em função desse poder, mantém o controle da gestão ou da gestão estratégica”.

Como se percebe, a perspectiva deste conceito reside na figura do fundador, na perpetuidade da empresa e no controle acionário da família, que a comanda seja na gestão ou na gestão estratégica.
Pedro Podboi Adachi nos ensina que “pode-se considerar uma empresa como sendo familiar qualquer organização na qual uma ou poucas famílias concentram o poder de decisão envolvendo o controle da sociedade e, eventualmente, a participação na gestão”.

Ainda conforme Adachi, a empresa familiar é “uma entidade com personalidade própria, cultura própria e independente de seus proprietários ou administradores e com objetivo definido, sendo ainda caracterizada por duas ou mais pessoas com laços afetivos e sanguíneos entre um ou mais núcleos familiares”. Ressalta, finalmente, não ser também necessária a participação da família na gestão.

Já na moderna visão da família empresária, a empresa familiar é apenas um dos elementos dos três círculos ou dos subsistemas em torno dos quais gravitam os familiares detentores de empresas familiares na condição de fundadores, sócios, sucessores, herdeiros, empreendedores ou investidores.

Porém, destaca-se que os familiares, além de integrarem de forma direta ou indireta a(s) empresa(s) da família, poderão ser vinculados por patrimônio (propriedades) comum, bem como por relações e vínculos de parentesco sanguíneo ou por afinidade, cujos parâmetros de governança e gestão são diferentes da administração de uma empresa.
A moderna família empresária percebe e age com lógicas diferenciadas para a empresa, as relações familiares e o patrimônio. Desta forma, a empresa familiar, neste contexto, é apenas um dos subsistemas que compõe a família empresária.

Não se nega o caráter emocional e afetivo da empresa familiar como o mais percebido dos subsistemas, assim como, normalmente, o mais cobiçado, até porque é lá que o sucessor vai ocupar a cadeira/trono do pai/mãe, rei/rainha, além de ser a fonte de resultados e lucros para os familiares.

A empresa familiar fascina os herdeiros e sucessores, assim como seduz o fundador como sendo um reino perpétuo. Na sua seara, exerce-se o poder e é lá que se expõe o prestígio para a comunidade e a sociedade em geral. É o mais charmoso dos três circuitos, mas também é o mais ardiloso em termos sucessórios, caso não haja a sensibilização da família. Pode ser, e normalmente o é, a mais rica fonte dos subsídios e fomentos da família, porém não a mais relevante.

É bem verdade que tanto a empresa como o patrimônio vinculam familiares por resultados quantitativos – lucro, ebitda, valorização etc. –, porém não se deve desprezar outros vínculos afetivos não mensuráveis e quantificados. Como os laços emocionais vinculantes entre pais e filhos, irmãos, tios e demais formas de parentesco.

À família empresária compete inserir a empresa como mais um de seus valores de raiz, como a ética, a união, a fraternidade e o legado familiar, de modo a equilibrá-la na sua relevância com o patrimônio e a família.